Era esse o lema do Quibi, que vai encerrar suas atividades 6 meses após ter nascido.
Não sabe o que é o Quibi? É preciso saber !
Aqui tem uma reportagem completa sobre a empresa (artigo longo e em inglês – vai lá, clica no tradutor e se divirta).
Casos de sucesso e de fracasso, quando frescos e atuais, são ainda mais educativos, pois nos permitem a análise com proximidade histórica.
Algumas informações do Quibi, para dar contexto:
- Foi concebido e fundado por executivos extremamente bem sucedidos na indústria de entretenimento e tecnologia;
- É uma plataforma de streaming para filmes, tipo Netflix, mas limitado a vídeos mais curtos, de até 10 minutos;
- A proposta de valor foi concebida sobre a premissa de que as pessoas tenderiam a se vincular mais fortemente com conteúdos rápidos, que pudessem ser consumidos em pequenas mordidas (quick bites) ao longo de um dia;
- O catálogo seria de produções originais e próprias, com os melhores roteiristas e diretores do cinema e da TV americana, cujos cachês seriam até 40% superiores ao valor pago pelo mercado (HBO, Disney, etc);
- Captou investimentos iniciais de 2 bilhões de dólares;
- Com toda expectativa criada, e pelas credenciais dos seus fundadores, nasceu com seis meses de cotas de publicidade já vendidas (anunciantes);
- Foi lançado em Abril deste ano, no meio da pandemia;
- Não fez testes de sua hipótese com o mercado (consulte sobre product-fit);
- Começou “grande”, justificando que começar pequeno, testando produto no mercado e criando MVPs, faria sentido apenas quando você não tivesse “funding (investimento)” suficiente;
- Por conta disso, quando saiu a ideia desse projeto, ainda em 2018, a Harvard Business Review sugeriu que se o Quibi desse certo seria a “morte” do conceito de “Lean Startup”. Leia Aqui.
O caso do Quibi permite reflexões sobre o que entendemos serem boas práticas no desenvolvimento de clientes e de produtos.
A economia digital consolidou o uso do modelo difundido e lapidado pela filosofia lean startup como sendo o mais adequado e antifrágil para essas finalidades.
Esse processo tem 3 pilares:
(1) Construir um produto, (2) medir seus resultados e (3) aprender com o feedback recebido, criando um loop de aprendizagem e melhoria contínua.

Essa tríade, por sua vez, é antecedida por um processo de validação de hipóteses, onde compreende-se a capacidade da ideia de resolver um problema real
Esse é o conceito de problem-fit.
Se a hipótese é validada, a boa prática é construir MPVs para testar funcionalidade, refinar o público alvo e apurar se (e quanto) o mercado está disposto a pagar por esse produto ou serviço.
Chamamos esse processo de product-fit.
Essa dinâmica está representada no framework de desenvolvimento de clientes, criado por Steve Blank no livro “Four Steps To The Epiphany” (em português: Do sonho a realização em 4 passos).

Ao ler o caso do Quibi é possível concluir que eles simplesmente ignoraram a fase de descoberta, acreditando que poderiam criar demanda na força bruta, usando suas enormes reservas financeiras iniciais.
Foi um misto de miopia e arrogância, de não aprender com as boas práticas, fechando-se numa bolha que foi amplificada por vieses cognitivos.
Mas isso, a influência de vieses cognitivos na tomada de decisões, é papo para outro post.
Por ora, fechamos com a primeira regra do manifesto de desenvolvimento de clientes, também criado por Steve Blank, no livro já citado.

“Rule No. 1: There are no facts inside your building, so get outside.”
As coisas não vão cair do céu, na sua mesa. Saia do escritório e valide suas hipóteses com o mercado. (Tradução adaptada )
P.S: não seja tão literal, por favor, e adapte essa regra aos tempos pandêmicos, usando dos recursos digitais disponíveis para esse fim.